Rotina é algo que se repete, um modo de fazer diário. Pode ser um caminho, um costume, uma prática, um hábito. Há quem tema quebrar a rotina pois sente-se seguro com as coisas no lugar sempre do mesmo jeito, longe de alterações, desvios ou imprevistos. Há quem sonhe em romper a rotina porque a vida tornou-se algo sem graça, sem movimento ou sem qualquer mudança.
O filme “Um Ponto Rotineiro”, que começa a ser gravado nesta sexta-feira (03/03), propõe um mergulho interior para confrontar os dramas cotidianos e promover uma transformação pessoal. Com roteiro, produção e direção da estudante Jaslinne Pyetra Matias dos Santos, de Baixo Guandu (ES), o curta-metragem será a sexta obra filmada pelo Curta Vitória a Minas II.
“Eu escolhi este assunto porque queria que as pessoas entendessem o meu ponto de vista sobre a vida e se enxergassem também dentro da história. Queria que elas pudessem, principalmente, entender que essa rotina do dia a dia é a gente que cria. Se criamos uma rotina entediante, a vida vai ser entediante. Se criamos uma rotina alegre, a vida vai ser alegre, e por aí vai. É uma forma de fazer com que as pessoas possam se enxergar e perguntar: Peraê, estou fazendo isso todo dia! Por qual motivo? Por qual situação? A vida é muito mais do que isso, podemos fazer outras coisas e descobrir o mundo inteiro ainda”, relata a autora.
O sonho
Jaslinne Pyetra Matias dos Santos nasceu no dia 20 de maio de 1995, em Aimorés, Minas Gerais, mas as terras guanduenses a acolheram. De fala mansa e baixa, a estudante de Artes Visuais tem um jeito doce e introspectivo. Isso à primeira vista porque basta chegar mais perto pra enxergar uma alma inquieta, questionadora e pulsante pronta para expressar pensamentos, emoções e observações sobre a existência humana. E a escrita é uma das formas preferidas de expressão da autora que sonha em construir uma carreira artística nas áreas do cinema, televisão e teatro.
A garota escreve roteiros, toca clarinete e gosta de atuar no palco, embora nunca tenha estudado artes cênicas. Muito desta inspiração veio da mãe escritora e compositora musical, Hosana Marta, que também guarda o sonho de se tornar uma artista profissional. Cresceu ao lado da mãe e do padrasto, Eliseu Gomes da Cruz. Tem seis irmãs, duas por parte de mãe (Luandra e Tácyla), e quatro por parte de pai (Yohanna, Ágatha, Mikaelly e Alanna), o pedagogo e músico, Luiz Matias.
A morte
A história mostra a busca de uma garota por si mesma, uma metáfora à jornada interior percorrida pela própria diretora para encarar os abatimentos da vida. Um dos maiores impactos foi a perda de familiares muito próximos que sempre lhe deram afeto, apoio e sustentação emocional. O assassinato do padrasto no trabalho, quando a menina tinha 12 anos, e a morte, em um acidente de moto, do primo Lucas Medeiros, com quem cresceu como se fosse um irmão, além da perda do avô, João Matias de Araújo, e do tio, Josué Matias de Araújo, mais recentemente, vítimas da Covid, e outras perdas de parentes queridos, levaram-na a um estado de pavor e isolamento.
“Eu comecei a me esconder mais dentro de uma caixa porque eu tinha medo de tudo, de perder alguém, medo de morrer. Nesta fase, decidi que não iria pensar em fazer nada. Eu comecei a ficar nesta paranoia. A minha vida passou a ser somente a minha rotina. Não tinha sonhos mais de fazer filmes, nem nada. Eu não queria me abrir com ninguém, não me interessei mais por ninguém, só ficava no meu mundo”, relembra Jaslinne. Para superar as atribulações, ela conta que aprofundou o diálogo com Deus e construiu novas perspectivas diante da vida a partir da redescoberta da fé e da espiritualidade.
A realização
A oportunidade de ter uma história selecionada e de fazer um curso audiovisual com profissionais renomados do cinema e da televisão para construir o primeiro filme reacendeu as aspirações artísticas da autora. “A minha expectativa para as gravações é muito grande porque é a realização de um sonho, a concretização de algo que até, então, era só fruto da minha imaginação. É algo particular que estou mostrando para o mundo. É algo que eu posso um dia olhar e dizer: eu consegui! Mesmo que eu não siga neste propósito, neste caminho, ter um projeto que se tornou uma realidade, mais do que a realização de um sonho, é uma conquista que vou levar pra vida toda. Estou muito confiante e ansiosa”, desabafa. As filmagens começarão nesta sexta-feira (03/03) e seguirão até domingo (05/03), em Baixo Guandu (ES).
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Gustavo Louzada