Pré-produção: hora de celebrar a força da comunidade

Os dez autores das histórias selecionadas pelo Curta Vitória a Minas II começaram a preparar as cidades para as gravações dos filmes. Antes desta pré-produção, eles se entregaram a um estudo intensivo de quinze dias sobre a linguagem audiovisual no vilarejo litorâneo de Santa Cruz, em Aracruz, no Espírito Santo.

Com a orientação de professores renomados da área de cinema, escreveram o roteiro, montaram o plano de produção, aprenderam noções de fotografia, som, direção de arte e produção e ainda participaram de dispositivos de sensibilização do olhar provocados pelo cinema de grupo.

A coordenadora do Instituto Marlin Azul, Beatriz Lindenberg, responsável pela condução do projeto, resgata os melhores momentos do curso audiovisual e conta como esse processo de construção coletiva provocado pela arte e a cultura irá valorizar a força criativa e mobilizadora de cada comunidade nos dez municípios envolvidos.   

– O Curta Vitória a Minas entrou na etapa de pré-produção dos filmes nas cidades. Antes, os autores com histórias selecionadas participaram de uma oficina audiovisual durante uma imersão de 15 dias em Santa Cruz, no município de Aracruz (ES). Como foi esse primeiro encontro com os selecionados?

Beatriz – Foram 15 dias de convívio intenso e prazeroso. Aos poucos vamos conhecendo melhor os autores, suas motivações e o envolvimento de cada um com sua história. É um processo bonito ver pessoas com pouca ou nenhuma experiência audiovisual começarem a colocar o filme de pé e transformar a história em um projeto audiovisual criativo, organizado, com roteiro, plano de produção e clareza das imagens e sons que desejam realizar. Acompanhar o passo a passo desse processo no decorrer das aulas e nos exercícios práticos é emocionante. A imersão tem esse aspecto de construção de um conhecimento, ao mesmo tempo, individual e coletivizado.  As pessoas participam da criação uma das outras e todos constroem juntos.

A vivência do curso é toda a soma deste volume grande de saberes apresentados, trabalhados e desenvolvidos ao longo de duas semanas. Os selecionados, os professores e membros da equipe, todos nós juntos, criamos um ambiente aconchegante, afetuoso, unido e alto astral. Foram semanas que deixaram saudade.

A experiência do cinema de grupo trouxe um aspecto novo para as práticas do Instituto Marlin Azul, de uma maneira leve, divertida e intensa. Os experimentos propostos são dinâmicos, criativos, aproximam as pessoas e trabalham a expressão e a linguagem audiovisual.

– Fazer cinema é um processo transformador que requer organização, dedicação e coletividade. Como o Instituto Marlin Azul conduziu esse processo junto a pessoas que estão vivendo a iniciação audiovisual, a experiência de estudar cinema e fazer um filme pela primeira vez?

Beatriz – Os autores trazem boas histórias, suas experiências de vida e as motivações que os levaram a se inscrever no concurso para terem a oportunidade de construir seus filmes.

Durante a oficina, o nosso papel foi organizar as melhores condições para contribuir com tais processos. Os professores são qualificados, experientes e interessados nos desafios dos autores iniciantes.

As oficinas foram intensas, com muito conteúdo trabalhado nestes 15 dias. Mas a turma manteve-se bastante motivada para aprender e experimentar a linguagem e os conceitos audiovisuais básicos para transformação das histórias em filmes.

Tentamos criar um ambiente o mais agradável e tranquilo para o desenvolvimento da imersão. O curso aconteceu na vila de Santa Cruz, em ambiente verde e arejado, numa pousada ampla e confortável, bem perto das praias de paisagem exuberante, na junção de manguezal, Mata Atlântica e foz do Rio Piraqueaçu, que também conseguimos aproveitar ao longo da estadia.

Toda esta combinação de fatores fez uma diferença grande e a integração construída durante o curso levou o projeto para uma próxima etapa com uma energia muito vibrante.

Estes participantes trouxeram uma diversidade e uma multiplicidade de vivências. Quais as riquezas destas histórias?

Beatriz – O que mais me emociona nas histórias selecionadas é a forte relação com as histórias de vida dos autores e autoras.  Essa presença de cada um, seja numa história verdadeira ou inventada, traz uma intensa motivação pessoal. Alguns de maneira mais poética, outros de modo mais descritivo, outros mais experimentais. Todas as histórias guardam esse vínculo forte com a vida, com a forma de se expressar e com o interesse de cada autor. Isso é o mais importante para estas histórias tomarem um corpo. Todos os selecionados voltaram para as cidades de origem motivados e a equipe continua disponível para colaborar com os realizadores nos desafios da pré-produção. 

O que acontece com estes autores, histórias e cidades nesta etapa de pré-produção?    

Beatriz – Com o retorno para as cidades, cada selecionado (a) começa a preparar a equipe local, formada por moradores que, na grande maioria, também não têm experiência em set de filmagem. Os autores iniciam o trabalho de identificação e viabilização das locações, de seleção e ensaio do elenco, pesquisa e organização de figurinos e objetos de cena, revisão do roteiro, plano de filmagem e ordens do dia, dentre outras atividades de pré-produção em preparação aos dias da gravação que deverão acontecer nos próximos meses.

Como esse processo de mobilização nas cidades em torno da construção de um filme pode fortalecer estas comunidades?

Beatriz – O Curta Vitória a Minas II selecionou dez pessoas que serão multiplicadores do projeto em suas cidades. O projeto é uma produção que será estruturada a partir de pessoas da comunidade. Os filmes têm esse poder grande (e necessidade) de agregar e de fortalecer os vínculos e laços pessoais, afetivos, comunitários, profissionais.

Todos juntos para a construção de uma obra que traz a marca de cada pessoa envolvida. Todos se sentem coautores, de alguma forma. A gente vê essa movimentação em diferentes gestos, em quem colabora com o figurino, cede uma locação, cuida da maquiagem, do transporte, da alimentação ou água no set.

Especialmente na etapa das filmagens e do lançamento no cinema na praça, o projeto se caracteriza pela mobilização de uma comunidade e por uma criação coletiva que vai ter a cara daquele território.

É impressionante a força da mobilização comunitária desses lugares. A cultura e a arte conseguem ser este instrumento capaz de despertar os talentos, as habilidades, os sonhos, o sentimento de pertencimento e impulsionar o poder de conexão, articulação, organização e realização de uma comunidade. As pessoas sentem orgulho e satisfação com o resultado de uma obra que valoriza e fortalece os moradores, as histórias e o jeito de ser de cada lugar.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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