Olha que trem bão! O caminhão-cinema do Curta Vitória a Minas II lançará em Ipatinga (MG) nesta quarta-feira (12/07) o curta-metragem “Santa Cruz” dirigido pela artista visual Rita Bordone. A ficção resgata o encantamento de uma menina de 11 anos pelas cores do ritual católico de celebração da Santa Cruz vivido ao lado da saudosa mãe. A obra integra a coletânea de ficções e documentários feitos por moradores de cidades que se desenvolveram no entorno da Estrada de Ferro Vitória a Minas. A sessão gratuita ao ar livre será realizada às 19h30, no Parque Ipanema.
A estrutura de exibição inclui uma telona de 9×6 metros, projetores, sistema de sonorização e cadeiras para acomodar os espectadores. A caravana está percorrendo municípios capixabas e mineiros para exibir em ruas e praças as histórias transformadas em filme. O projeto é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com a realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal e, em Ipatinga, conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Ipatinga.
Em meados dos anos 70, na pequena Bom Jesus do Galho (MG), Rita de Cacia Bordone tinha 11 anos e seus olhos brilhavam diante do papel de seda colorido recortado por sua mãe para enfeitar cruzes de madeira que seriam instaladas em diversos pontos da casa. A menina acostumada aos tons terrosos e pálidos da estrada de chão nunca esqueceu o encantamento pelas cores das cruzes decoradas como um gesto de gratidão e um pedido de proteção a Nossa Senhora.
Essa antiga tradição católica em homenagem a Maria foi a inspiração para a história “Santa Cruz” transformada em filme pelo Curta Vitória Minas II. A autora conta que nasceu em um ambiente festeiro e afetuoso. Os avós maternos costumavam receber muitos visitantes em casa. Os pais prestigiavam os eventos culturais e celebravam as festas populares e religiosas da comunidade. Sua mãe, Maria Pires de Faria, conhecida como Dona Totinha, benzedeira, costureira e artesã, confeccionava as cruzes e as distribuía pela casa, nas janelas, na porta do lado de fora e no paiol onde se guardava os alimentos.
O gesto entregava um pedido de proteção contra o mal, as adversidades e os infortúnios da existência. Rita acompanhava com atenção cada cuidado da mãe na preparação das cruzes que, na imaginação da pequena Rita, subiam aos céus para encontrar a Virgem Maria. As gravações da ficção baseada em fatos reais aconteceram na zona rural de Ipatinga, nos distritos de Tribuna e Ipaneminha, mobilizaram as comunidades e envolveram no elenco moradores da cidade.
O amor pela arte e a cultura acompanhou a trajetória da mineira. Formada em Artes Visuais pela Universidade de Brasília (UnB), participou de diversas oficinas de artes visuais, teatro, dança contemporânea, cenografia e maquiagem, se especializou na arte da impressão têxtil botânica em utilitários e costuma aproveitar objetos do cotidiano para criar exposições com temáticas sociais e ambientais em galerias de arte.
Rita integra a Federação Nacional de Artesanato, faz parte do Movimento Fashion Revolution pela sustentabilidade na moda, em favor do preço justo, contra o trabalho escravo, em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos, e ainda participa do Wikiaves, um site brasileiro que reúne fotos e sons de diferentes espécies de pássaros enviados por observadores de pássaros.
Texto: Simony Leite Siqueira