Um telão de cinema no meio da Praça da Estação se juntou à rotina do centro de Coronel Fabriciano (MG) na noite de sexta-feira (14/07) do Circuito de Exibição do Curta Vitória a Minas II. O local foi escolhido para apresentar histórias de gestantes em situação de vulnerabilidade social contadas pelo documentário “Um Olhar para a Maternidade”, dirigido pela mineira Patricia Araújo, moradora da cidade. As personagens do curta-metragem são acompanhadas pelo Projeto Acolher realizado pelo Instituto Brasileiro Missão de Mãe (IBM – Mãe). O tempo carregado de nuvens durante todo o dia ameaçava uma chuva a qualquer momento. Um pouco antes da abertura da sessão e em um breve momento da mostra alguns chuviscos caíram sobre o espaço, no entanto, logo cessaram, não interrompendo a estreia.
Brenda Paula Silva Santos, mãe do Samuel, de 12 anos, estava grávida do Adrian quando recebeu o convite para participar do documentário. A faxineira marcou presença na sessão carregando em seus braços o filho mais novo. Quando descobriu a gravidez, em agosto do ano passado, ela se recuperava de um acidente doméstico que lhe ocasionou queimaduras pelo corpo. Os remédios que precisou tomar para o tratamento das lesões acabaram cortando o efeito da injeção anticoncepcional, levando-a a uma gravidez inesperada, transformando tudo mais uma vez. Brenda ficou emocionada ao ver o filme e perceber como a vida é movimento e mudança o tempo todo.
“Achei o filme lindo e emocionante. Fiquei radiante, apaixonada. Me ver no filme daquele tamanho, enorme de gorda, e perceber que, apesar dos obstáculos, eu consegui superar, pois aquela fase passou. Eu estava com muito medo de morrer. O medo era terrível. Hoje só tenho a agradecer a Deus mesmo e pedir a Deus mais força pra me capacitar porque não é fácil não esta vida de mãe solteira. Agora, o filme, que edição, hein?! O pessoal está me zoando falando que virei estrela de Hollywood!”, relata Brenda.
A segurança do trabalho Ana Carolina Daro Santos estava passando pelo centro com a família quando viu a telona e decidiu ficar pra acompanhar a exibição do filme feito no município pela amiga. “O cinema na praça foi maravilho com os curtas-metragens das cidades, com o filme da Patrícia com esse olhar voltado para o lado das mães, um lado que requer muita atenção. Muitas vezes, a gente vira mãe e se sente isolada. A Patrícia pegou um tema excelente pra trabalhar e ficou muito bom. Foi espetacular!”, destaca a mãe que também integrou o grupo do Projeto Acolher.
A sessão contou com a presença de outros diretores desta segunda edição do Curta Vitória a Minas II: o diretor de “Holerite”, Ademir de Sena, de Naque (MG), e a diretora de “Santa Cruz”, Rita Bordone, de Ipatinga. A plateia reuniu ainda a representante da Vale na comunidade, Kely Moreira, e integrantes da Prefeitura de Coronel Fabriciano, como a coordenadora de Cultura Bia Antunes e o diretor de Turismo e Agricultura Waldiney Renato Carvalho. “O filme é fantástico. Ele pode transmitir várias mensagens pra várias adolescentes. Ficou tão perfeito que a gente se emociona pelo roteiro e pela possibilidade de chamar o pessoal da escola para mostrar o filme. Uma das personagens fala que se tivesse tido orientação antes talvez não estaria talvez daquele jeito. Esses filmes trazem também para o lado da educação. Acho que essa mostra acontecer mais vezes. Foi muito bom”, relata Waldiney.
A diretora do documentário acordou ansiosa no dia da estreia. Patrícia foi até o Morro do Carmo onde nasceu para reforçar o convite para a sessão da noite. A possibilidade de chuva a preocupou, mas tudo acabou dando certo, ao final. “Uma emoção muito grande ver aquele filme contando a minha história, a história das meninas, das mães, mostrando o amor delas mesmo diante das muitas dificuldades que passaram ou passam, ver o carinho que sentem pelos filhos, ver a imaginação das crianças nas cenas em que elas participam. Fiquei muito feliz com a exibição deste filme. Pra mim foi uma experiência incrível”, conta a diretora.
A empreendedora social pretende multiplicar o acesso ao curta-metragem para compartilhar o conteúdo com mais pessoas e em diferentes espaços de debate sobre maternidade. “Eu tenho intenção de apresentar o filme nas escolas e em outros projetos sociais como forma de orientação para a prevenção da gravidez na adolescência, como forma de ajuda para mães sobre como cuidar da primeira infância. Pra mim, este filme será muito bom em debates escolares, em debates entre mulheres, em rodas de apoio de mulheres, de mães. Será mais utilizado nesta área de discussão, de conhecimento, de instrução”, planeja a autora.
A exibição dos curtas-metragens nas cidades marca a fase de difusão que, daqui pra frente, inclui ainda a inscrição das obras em mostras e festivais. A trajetória do Curta Vitória a Minas II começa com a inscrição e seleção das histórias, continua com a realização das oficinas audiovisuais, a pré-produção, a gravação e, agora, as estreias para as comunidades dos municípios participantes. “Foi um processo de um ano de muita aprendizagem. Eu tinha um sonho de fazer um documentário, mas não imaginava que iria realizar esse sonho tão rápido. Foi uma experiência muito boa. Aprendi muito na área da cultura. Quero continuar fazendo outros projetos e já fui convidada para fazer um outro filme”, conta Patrícia Araújo.
Do primeiro ao último filme da mostra, o espectador Alexandre Magno Lopes Dias se entregou ao encanto e à emoção dos filmes exibidos na telona montada sob o céu nublado daquela noite em Fabriciano. “Eu achei fantástico! Foi a primeira vez que participei. Parecia que eu estava na Europa. É maravilhoso esse tipo de trabalho. Muito interessante. Eu achei interessantíssimo porque está mostrando muito a cultura do povo mineiro, do povo capixaba, da influência que a Vale do Rio Doce, através da Vitória a Minas, praticou ao longo destes anos todos. Eu me lembro da estação em Coronel Fabriciano, me lembro do último trem e a gente pôde ver essa situação em um dos filmes que passou. É maravilhoso este tipo de coisa e esse é um trabalho que tem que perdurar”, declara o comerciante que cresceu envolvido pela magia das sessões de filmes na sala escura.
A família de Alexandre trabalhou no Cine Marrocos, que funcionava no centro, pertencente à antiga Empreendimentos Piracicaba Limitada, atuante no ramo de entretenimento na região. Seu pai foi gerente e a mãe trabalhou como bomboniere no Cine Marrocos. “Eu sou filho de um trabalhador do cinema, então, a influência do cinema na minha vida está toda elencada naquilo que eu faço porque sou comerciante e vivo neste antigo espaço que abrigou o cinema e onde hoje tenho uma lanchonete. Nunca saí desta atmosfera”, relata o espectador da penúltima noite de exibição do Curta Vitória a Minas II. O projeto é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com a realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Gustavo Louzada