Gravação de emoções em Coronel Fabriciano, Minas Gerais

Era 8 horas da manhã de quinta-feira (09/03) quando a equipe de filmagem do documentário “Um Olhar para a Maternidade” subiu o Morro do Carmo, em Coronel Fabriciano, para conversar com mães que encararam os conflitos de uma gravidez na adolescência. As mulheres esperavam a equipe comandada pela diretora Patrícia Araújo para gravar suas histórias na casa da Dona Cota, uma antiga moradora do bairro, que ainda costuma colocar sua cadeira do lado de fora da residência, situada em frente à Unidade Básica de Saúde.

Uma das entrevistadas era Vitória Eduarda Ferreira Silva, de 22 anos, mãe de dois filhos. A jovem tinha 17 anos quando engravidou pela primeira vez. Seu filho mais velho, o Davi Manoel Meireles Silva Cupertino, hoje tem quatro anos. Mais conhecida como Vick, ela mora com o companheiro, pai da sua filha Valentina Carvalho Silva, de dois anos de idade, fruto da sua segunda gestação. Atualmente, para ajudar nas despesas da casa, a mãe prepara lanches num estabelecimento comercial que mistura lanchonete, pizzaria e restaurante. Antes, ela atuava como cabeleireira depois que fez um curso para aprender a profissão. No entanto, desistiu do salão de beleza porque os materiais de trabalho encareceram e ficou complicado repassar os valores dos serviços para as clientes da comunidade.   

Há poucos anos, Vick era uma adolescente rebelde e revoltada diante da vida. Foi neste momento turbulento de incertezas, desconfortos e questionamentos que a menina descobriu a gravidez. “A notícia foi um choque muito grande. Eu não queria aceitar. Eu custei a aceitar, não que eu não quisesse um filho. Mas eu estava totalmente desestabilizada naquele momento. Eu não tinha uma casa, um carro, um serviço, não tinha estudo. Pra mim foi um pouco desesperador”, relembra.

Aos poucos, aquela angústia foi se apagando dando espaço para uma transformação na vida da adolescente. “Eu comecei a aceitar a gravidez quando a minha barriga foi crescendo e ele foi ficando mais forte lá dentro. Assim começou o meu ato de amor pelo meu filho”, revela Vitória. A jovem contou sua história para o filme ao lado de outra menina que também encarou a gravidez na adolescência. Nayane Resende, a Nany teve o Henri aos 18 anos idade. Hoje, o menino tem apenas dois meses de vida. A equipe acompanhou um pouco como é a rotina de cuidados e de afeto, em especial, um dos momentos de maior conexão entre mãe e filho, a amamentação.

Mais emoções

Após uma manhã cheia de potência feminina das jovens mamães veio um intervalo para o almoço. Na parte da tarde, a equipe juntou a garotada do bairro para uma cena curiosa. A turma do cinema criou um dispositivo, um experimento, que funcionou como uma brincadeira para as crianças e adolescentes. A diretora perguntou pra cada participante: onde você estava antes de nascer? A espontaneidade das respostas e as reações dos personagens reais iluminaram ainda mais o set de filmagem.

“Quando subimos o morro, algumas crianças já estavam lá nos esperando. Foi uma tarde na praça lotada e cheia de movimento. As pessoas esperavam para acompanhar a gravação das crianças. Começamos a filmar num pedaço da praça e o sol foi chegando. Depois, mudamos a gravação para a Rua 4, próxima à praça, onde o sol estava melhor para as filmagens. A gente fazia perguntas e captava aqueles rostinhos tão bonitinhos com vergonha. Outros respondiam de maneira diferente. A gravação da tarde foi muito fofinha”, relata a diretora que se sentiu acolhida pelo envolvimento e o apoio da comunidade na preparação do documentário.

As filmagens foram retomadas no período da noite com a gravação de histórias de mulheres que sofreram violência obstétrica. Esse tipo de agressão pode ocorrer durante a gestação, no parto ou no pós-parto e se manifesta nas formas de violência física, verbal, sexual ou pela adoção de procedimentos desnecessários. As mulheres atingidas desenvolvem uma série de problemas como traumas e depressão, dentre outras consequências nocivas ao seu bem-estar e saúde.

O impacto do set

Mesmo sendo diferente de tudo o que realizou na vida, Patrícia Araújo está amando o aprendizado de realizar um filme. Para a contadora, a experiência de produzir e gravar o documentário dentro da comunidade aonde nasceu e cresceu sobre a luta das mulheres pela valorização e o respeito à dignidade materna é uma grande conquista.

“Eu sempre falava com as meninas que meu sonho era fazer um filme e eu não sabia como começar. Hoje, nestes dias de gravação, estou vendo que tudo foi direcionado por Deus para nos abençoar com esse documentário. Antigamente, meu sonho era falar um pouco do projeto social e conseguir passar um filme sobre a primeira infância na praça da cidade. Com a seleção no projeto Curta Vitória a Minas II, vou realizar um sonho muito maior que é exibir o meu filme, a minha história, as histórias das mulheres da comunidade. Isso é muito bom e muito edificante”, avalia a diretora de “Um Olhar para a Maternidade”. As gravações continuarão até sábado (11/03).

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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