Fotografia: a magia visual do filme

O cinema tem uma grafia visual que se conecta ao som para provocar sensações e emoções. Para se comunicar com o espectador, a fotografia reúne elementos visuais capazes de intensificar as ações do filme. Por sua vez, cada ação carrega intenções da história e a visão do diretor.

Aos poucos, os autores do Curta Vitória a Minas II reunidos em Santa Cruz, Aracruz (ES), estão desvendando como traduzir o que contaram no papel em planos, enquadramentos, ângulos, tipos de lentes e formas de iluminação. Ao descobrir o que acontece atrás e na frente das câmeras, cada autor experimenta qual narrativa visual conta melhor a sua história.

A diretora de fotografia, Ana Rezende, vem apresentando os principais conceitos sobre o assunto aos participantes. “O papel da fotografia, em primeiro lugar, é transmitir a ideia, o sentimento e a atmosfera que aquele diretor ou diretora pensou em forma de imagem para envolver o espectador”, conceitua a professora.

Assim como aconteceu com as demais oficinas, as aulas de fotografia envolvem reflexão, troca e debate. Os autores buscam em conjunto soluções e saídas para o filme um do outro. Depois de estudarem os fundamentos técnicos e estéticos sobre a fotografia, eles partem para a experimentação.

A ideia é simular um set de filmagem. Cada um escolhe uma cena do roteiro pra fotografar e passa a definir tipos de luz, planos, enquadramentos e movimentos de câmera. O autor da história toma as decisões fotográficas e conta com a participação dos demais autores nas demais funções, como a atuação.

Novas percepções

Segundo Ana, um dos desafios iniciais dos alunos é entender a diferença entre as funções de quem opera a câmera e de quem dirige uma cena fotográfica. “A direção de fotografia pensa onde as luzes serão colocadas quando se ilumina. Ou como melhor aproveitar a luz natural que favoreça a criação de uma atmosfera dentro do filme. Depois, a direção de fotografia pode ter a colaboração de um operador/operadora de câmera que, de fato, vai captar as imagens”, explica Ana.

Quando o diretor de fotografia escolhe um tipo de luz, plano e movimento para contar uma história estão envolvidos conhecimentos técnicos e criativos. Como uma orquestra, o trabalho da fotografia atravessa todo o processo da realização audiovisual pois estabelece conexões com o roteiro, o som, a produção, a direção de arte e a montagem.

Durante as aulas, uma das experimentações é misturar um pouco os elementos usuais de um gênero dentro do outro. “Em uma das cenas de documentário, a turma optou pela preparação de uma cena. Houve a escolha de uma luz e um estudo de movimentação dos personagens. Gravaram intencionalmente à hora de um pôr do sol com o objetivo de trazer uma sensação mais nostálgica à cena. E isso é da natureza da ficção. Estamos misturando muito dentro deste projeto um olhar lúdico aos documentários, assim como um certo realismo às fantasias”, conta a diretora de fotografia.

Descobertas

Selecionada para transformar uma história em documentário, a catadora de material reciclável Ana Paula Imberti, moradora de Ibiraçu, no ES, participa pela primeira vez de uma aula de fotografia pra filme. “Eu achei bacana, bem diferente, novo. A gente está aprendendo bastante sobre quais planos precisamos usar, como filmar, o que devemos focar”, conta a capixaba.

A professora e jornalista Elisangela Bello resgatou memórias de infância para contar a história “Lia, Entre o Rio e a Ferrovia”, selecionada pelo Curta Vitória a Minas II, para ser transformada em ficção. “A aula de fotografia acrescenta muito em como fugir um pouco de uma reprodução do real. É uma perspectiva nova. A direção de fotografia está ligada à direção de arte, mas tem uma função muito especial que é trabalhar, não só uma ambientação no tempo, mas cuidando da luminosidade da cena, de como enfatizar a paleta de cores, pra dar uma dramaticidade, como trabalhar a emoção tendo a luz a nosso favor”, analisa a mineira, moradora de Aimorés (MG).

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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