Ademir de Sena Moreira nunca teve medo de experimentar e aprender coisas novas. Além do jeito curioso, desbravador e inventivo, o mineiro se tornou conhecido por causa da personalidade carismática, generosa e uma vocação para liderança. Com tudo isso e uma história emocionante pra contar, não faltou quem quisesse fazer parte da ficção “O Tempo era 1972”, com roteiro, produção e direção do aposentado. Desde a pré-produção até o momento atual das gravações, familiares e amigos de Ademir estão empenhados em participar do filme ambientado nos anos 70. Este é o primeiro filme do Curta Vitória a Minas gravado em Naque, município de 7.104 habitantes, localizado em Minas Gerais. O projeto produziu 15 curtas-metragens na primeira edição e, nesta segunda, estão em realização mais dez obras.
Estudante do 6º ano do Ensino Fundamental, Miguel Fernandes Moreira de Almeida, 12 anos, escolhido para interpretar o avô durante a infância, considera difícil encarar o papel porque é preciso recriar um tempo antigo marcado por dificuldades. “Foi inesperada a chamada do meu avô pra eu fazer o filme. É bem divertido. Conheci novas pessoas. O filme está ficando legal. E é isso, gostei demais”, relata. Essa é a primeira experiência de atuação do menino que vem se dedicando à tarefa com paciência, esforço e curiosidade. “A coisa mais difícil pra um ator, pelo menos pra mim, pelo que eu vivi, pelo que eu senti nas filmagens, é manter a calma porque é muito emocionante. Vou ter que confessar: a coisa mais difícil pra mim foi acertar o que tinha que fazer. Eu acertei a maioria, mas, a gente repetiu várias vezes. Isso é o que é mais difícil”, destaca Miguel.
A irmã do diretor, Eliete de Miranda Gomes, de 62 anos, interpreta a matriarca da família, a professora Naná. Eliete contracena com o filho mais velho, o Hércules, que faz o papel do patriarca, o Nenêgo. “Ademir me chamou pra dar um apoio. Foi acontecendo, fui participando e tomei gosto. Foi emocionante lembrar meu pai e meus irmãos quando eram crianças. Está sendo uma coisa muito boa relembrar o passado”, relata.
Reencontro
O segundo dia de gravações, na terça-feira (14/02), foi marcado pelo reencontro de antigos companheiros do diretor. Vindos de várias partes da região, os convidados se juntaram no Restaurante Dourado, aonde no passado os operários se reuniam pra conversar, fazer o acerto do dia, tomar uma cachaça e escutar modas de viola. O elenco relembrou os causos do passado e ainda participou das cenas no restaurante e das tomadas externas em cima do caminhão até o canteiro de obras da ferrovia. “O Tempo era 1972” relembra uma época em que o adolescente Ademir e o irmão Tuca vendiam pão com manteiga para ajudar no sustento da família.
O técnico mecânico aposentado José Maria Arruda, que mora em Naque desde 1958, topou o convite do diretor para interpretar na ficção o apontador do canteiro de obras. Hoje com 68 anos, José cresceu, brincou e estudou com Ademir. Assim como o menino protagonista da história, ele também teve uma adolescência pobre na região nos anos 70.
Quando Naque ainda tinha estação e o trem parava na plataforma, José vendia coxinha, rosca e pastel, aquele de massa feita à mão, com recheio de carne moída, através das janelas do trem de passageiros. O dinheiro era para comprar um caderno ou lápis para os estudos na escola. José aceitou com alegria o papel para atuar numa história sobre as memórias do companheiro desde a infância. “Eu e Demir somos amigos demais. É um homem lutador, ele não para. Ele pode me convidar pra qualquer coisa, que estou junto com ele. A experiência de gravar foi muito boa. A equipe conversa e anima a gente. Já estou até querendo fazer outro filme”, conta o técnico mecânico aposentado.
Geralda Faustina de Almeida Evangelista, de 64 anos, também conheceu Ademir nos tempos de criança. “Nós estudamos e fomos criados juntos. A mãe dele foi minha professora. Ela me dava uniforme porque, na época, minha família não tinha condições porque éramos muita gente dentro de casa. Eu ia fazer dever na casa dela junto com Demir”, conta Geralda, que se aposentou na Churrascaria Encantado após 38 anos de trabalho. Mesmo com o passar dos anos, a amizade entre as famílias se manteve, desencadeando no convite de reviver as memórias ao lado do amigo. “Desde criança nós convivemos juntos. Eu fiquei muito alegre com o convite e participei fazendo o papel da garçonete no Restaurante Dourado. Gostei demais!”, conta a atriz que também ajudou a selecionar objetos de cena, como botas e chapéus, usados pelos trabalhadores.
O reencontro entre o diretor e os amigos antigos se transformou em uma grande celebração da amizade para reavivamento, não apenas de uma lembrança pessoal, mas de uma memória coletiva e comunitária, fortalecendo laços de convívio e pertencimento. As gravações terminam nesta quarta-feira (15/02).
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Gustavo Louzada