O exercício de enxergar a imagem e o som do mundo com novos olhares preparou os autores das histórias selecionadas do Curta Vitória a Minas II para uma nova experiência. Ao final das aulas de roteiro e de direção para ficção e documentário, a turma se reuniu para uma sessão cineclubista, no quinto dia das oficinas audiovisuais, em Santa Cruz, Aracruz (ES).
O grupo de estudiosas e pesquisadoras do Cinema de Grupo exibiu dois curtas-metragens, o documentário “Noirblue: Deslocamentos de uma Dança”, de Ana Pi, pedagoga, bailarina e pesquisadora de danças urbanas, e a ficção “Três Minutos”, de Ana Luiza Azevedo.
A primeira obra é uma construção poética da artista negra franco-brasileira sobre uma travessia atlântica da bailarina em busca de pistas sobre sua origem ancestral. Ela percorre vários países do continente africano, mesmo sem um lugar ou um destino específico, para refazer os possíveis trajetos dos povos negros, utilizando uma costura intuitiva e profunda com o passado e o futuro.
As palavras e as danças se movem nas imagens de um jeito não linear como fragmentos, não perdidos e isolados, mas, como partes singulares que carregam toda a força, a riqueza e a diversidade do continente africano. Quase todo o filme coberta por um véu azul, a bailarina desperta a consciência contra o racismo e a invisibilidade construídos pelo projeto colonial para apagamento dos corpos negros.
Após a exibição, os participantes conversaram sobre o que viram e sentiram. “Cada pessoa negra vai ter uma história, uma carga, vai conseguir, de uma certa forma, tentar superar esses obstáculos do racismo e do preconceito. Alguns usam a alegria para evitar a tristeza, outros encontram na arte uma forma de expressão. A gente vai compondo e construindo as nossas narrativas. Ela (diretora) faz uma conexão com a África através da dança. Nós somos muitas áfricas”, reflete o biólogo Luan Ériclis Damázio da Silva, vindo de João Neiva (ES), um dos selecionados do projeto, autor da história “O T-Rex e a Pedra Lascada”.
Para a moradora de Baixo Guandu (ES), Jaslinne Pyetra Matias dos Santos, assistir aos filmes em conjunto com o grupo revela diferentes universos através do cinema. “O cineclube é bom porque você se desenvolve mais com o grupo e também te ajuda a enxergar um universo completamente diferente. Uma coisa é assistir o cinema na sala da sua casa. A outra é com a companhia de profissionais. Você não só vê o filme como entende o que está acontecendo ali dentro”, conta a baba, autora da história “Um Ponto Rotineiro”.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Gustavo Louzada