Centenas de pessoas lotaram a Avenida José Martins Morais Júnior, no Naque (MG), na última quinta-feira (13/07/23), para assistir ao filme “Holerite”, do diretor Ademir de Sena Moreira, morador do município. Os espectadores lotaram as cadeiras, se espalharam pelos diferentes espaços da avenida e ainda aproveitaram as varandas dos prédios ao redor para se acomodar diante da telona de cinema do Curta Vitória a Minas II. Ambientada nos anos 70, a história é baseada nas memórias do autor ao lado da família. Ademir transformou em filme o período da infância em que ele e o irmão Tuca venderam pão com manteiga no canteiro de obras da construção da canaleta da linha férrea na região onde nasceram e cresceram. Muitos espectadores viveram essa época e puderam revisitar suas lembranças. O filme marca um momento valioso da vida do autor e ainda registra uma memória coletiva e comunitária.
Ademir convidou familiares e amigos para formar o elenco do filme. O neto Miguel Fernandes Moreira de Almeida, de 12 anos, interpretou o avô, e outro neto, Yuri Emanuel de Sena Campos, de 10 anos, fez o papel do irmão do avô, o Tuca. Ademir e Tuca eram inseparáveis nas brincadeiras e na hora de inventar um jeito de ganhar um trocado para ajudar nas despesas da casa. Durante a exibição, a plateia vibrava a cada cena ao reconhecer o lugar e as pessoas da comunidade na tela.
“Foi bem emocionante, muito legal mesmo. Eu nunca imaginaria que eu iria passar numa tela enorme assim, sabe. É bem louco imaginar isso. Ficou muito bom o filme. A parte que eu mais gostei foi aquela que a gente andou no caminhão. Eu queria que repetisse essa cena na gravação, mas não precisou repetir porque não deu nada de errado”, conta Miguel.
Seu primo e companheiro de cena, Yuri, também comentou sobre o filme. “A parte que eu mais gostei foi a do bar e a que eu mais me emocionei foi quando a gente estava na BR caminhando”, revela Yuri. Após a venda dos pães, os dois irmãos costumavam voltar para casa a pé pela estrada. Ao final do mês, quando a turma de trabalhadores se reunia no restaurante/bar para receber o salário, os meninos estavam lá para recolher os valores da venda.
Eliete de Miranda Naque, irmã de Ademir, interpretou a mãe, Dona Naná. “Eu gostei muito da parte da minha mãe. Também gostei muito da cena com os trabalhadores, da boa vontade que eles tiveram para fazer o filme. Foi muito gostoso ver a união que temos no Naque com as pessoas, com os amigos. O laço de amigo é ainda muito grande”, destaca Eliete.
Geralda Faustina de Almeida Evangelista, de 64 anos, interpretou a garçonete do bar. Amiga de Ademir desde os tempos de criança, ela vibrou ao se ver na tela e amou a sessão ao ar livre para toda a comunidade. “Muito bom. Lotou! Todo mundo gostou e disse que o nosso filme ficou bonito demais. O Ademir falou que vai fazer outro filme. Eu falei com ele que quero entrar de novo. Gostei de todas as partes do filme, gostei de tudo. E a tela na rua, nossa, foi bom demais!”, comemora Geralda.
Conhecido pelo jeito carismático, gentil e extrovertido, Ademir ama contar causos e relembrar as histórias dos tempos antigos. Porém, nunca imaginou ter a chance de transformar uma destas histórias em um filme. A chance de desvendar um novo conhecimento ao participar de uma oficina audiovisual, construir um roteiro, produzir e gravar um curta, ao mesmo tempo, mobilizar a comunidade em funções artísticas e técnicas, foi uma grande surpresa e aprendizado para o autor. O resultado da obra trouxe a alegria e o orgulho de uma grande conquista.
“Viver aquilo e poder me ver ao lado dos meus netos fazendo parte da história foi muito gratificante. O pessoal gostou muito e riu muito dos causos. Foi muito boa a sessão. Cadeiras lotadas, gente em pé, nas varandas das casas, assistindo de camarote. Todo mundo gostou muito. Minha mãe gostou tanto que achou o tempo meio pouco. Ela disse: “Óh, mas já acabou?” A turma já está cobrando o segundo filme”, conta o diretor.
Texto: Simony Leite Siqueira