A hora e a vez da filmagem em Baixo Guandu (ES)

Para uma história de ficção se revelar na tela de um jeito emocionante e transformador, muito trabalho também acontece por trás das câmeras e dos gravadores de som. A estudante de Artes Visuais, Jaslinne Pyetra Matias dos Santos, autora da história “Um Ponto Rotineiro” selecionada pelo Curta Vitória a Minas II, está vivendo a experiência de comandar uma produção audiovisual pela primeira vez.

O medo, o nervosismo, a incerteza e a insegurança diante de uma tarefa nova foram os primeiros desafios enfrentados pela diretora nesta jornada cinematográfica. “Será que vou acertar nisso, vou conseguir fazer isso? As questões do set de filmagem, dos personagens, a locomoção, não eram tanto uma dificuldade, mas uma incerteza para mim. Eu não tinha certeza se seria possível chegar no dia da gravação e estar tudo certinho do jeito que a gente planejou”, desabafa Jaslinne.

O que está por trás

As gravações começariam na sexta-feira (03/03), no entanto, com a chegada da equipe a Baixo Guandu (ES), na quarta-feira (01/03), a turma se reorganizou, antecipando as filmagens para a noite de quinta-feira (02/03). A primeira diária ajudou a distribuir as tarefas e a organizar o ritmo, a comunicação e o entrosamento entre direção, técnicos e elenco. A captação das primeiras cenas trouxe para a diretora toda uma desconstrução em torno do set de filmagem.

“O que eu estou vivendo é uma experiência fora dos padrões do que eu podia imaginar um dia. Eu posso sentir como é a intensidade do trabalho. Às vezes, como espectadores, ao visualizarmos uma cena numa tela, imaginamos que aquilo é fácil e possível de se fazer. Quando nos colocamos atrás da tela, enxergamos um universo completamente diferente para que uma cena simples se torne realidade. É uma explosão de emoções. Estou vendo no set aquele sonho criar vida”, relata Jaslinne.

O desafio da direção

Todos os detalhes para a elaboração de uma cena como as decisões de luz e posicionamento de câmera e de equipamentos de som, a organização dos espaços físicos, das mobílias e dos objetos de cena e a preparação dos atores trouxeram novos aprendizados para a autora. Ela conta que as noções audiovisuais aprendidas durante o curso oferecido pelo projeto foram importantes. E uma das questões que mais a preocupava era como ela se sairia ao dirigir as pessoas. 

“Dirigir uma quantidade de pessoas com jeitos, costumes, manias, pensamentos iguais, ao mesmo tempo diferentes, pra mim era algo surreal. Eu achei que não conseguiria. Aos poucos, estou conseguindo fazer e me identificar mais com a minha personagem de diretora”, conta a estudante.

O tempo

Um outro aprendizado diz respeito ao tempo num set de filmagem. Uma cena pode levar horas para ser preparada, construída e gravada. Da mesma forma, cada minuto no set é valioso porque são inúmeras cenas e um tempo reduzido pra cumprir cada etapa da diária de filmagem. Isso exige ordenamento, controle e um trabalho conjunto e harmonioso da equipe. “Todas as impressões que eu tinha sobre cinema, sobre a questão da facilidade, do processo ser mais rápido, foram um pouco quebradas. Tenho tido um pouco essa dificuldade com o tempo, fazer com que as decisões sejam um pouco mais rápidas, mas estou resolvendo isso também”, descreve.

As parcerias

Jaslinne destacou a alegria de contar com uma rede de colaboração que se forma num set a partir das orientações técnicas, da dedicação e do comprometimento da equipe de profissionais em conjunto com a produção local. “Foi uma surpresa ver as coisas saindo até melhor do que o planejado. Na minha cabeça, por exemplo, eu tinha a imagem de um set e conseguimos construir um outro set completamente diferente que se encaixou muito bem no filme”, conta. A diretora se refere a uma das locações selecionadas que acabou sendo substituída pela sua própria casa. Para melhor dispor todos os equipamentos e a equipe envolvida no filme, além de alcançar melhores resultados de iluminação, a sala de estar foi transformada no quarto da personagem, aonde parte da trama se desenvolve.  

Baseado na vida da autora, “Um Ponto Rotineiro” revela a jornada de transformação interior de Laura, uma garota em busca de seus sonhos mais profundos. “Se eu continuar na carreira, que é o que pretendo fazer, vou levar esta experiência para o mundo e contar que tudo começou numa cidadezinha pequena, em Baixo Guandu, através de um projeto e de uma equipe que acreditou num sonho que, no fundo, eu não acreditava muito. Essa equipe não só acreditou neste sonho como o tornou real”, destaca a estudante.

O Curta Vitória a Minas II é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e conta com a realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal. Dez histórias contadas por moradores de cidades que se desenvolveram no entorno da Estrada de Ferro Vitória a Minas foram selecionadas para serem transformadas em ficções e documentários. Nesta segunda edição participam moradores dos municípios de Ibiraçu, João Neiva, Baixo Guandu e Colatina, no Espírito Santo, e Aimorés, Ipatinga, Naque, Coronel Fabriciano e Nova Era, em Minas Gerais.

Fotos: Gustavo Louzada, Mariana de Lima e Patricia Cortes

Ficha de Inscrição

Assine

* indicates required