Moradores da comunidade do Crubixá, na parte alta de João Neiva (ES), se abraçaram para prestigiar a grande conquista de um filho do lugar, Luan Ériclis Damázio da Silva: o lançamento do curta-metragem “O T-Rex e a Pedra Lascada”, dentro da programação do Circuito de Exibição do Curta Vitória a Minas II. O clima de acolhimento, alegria e conexão da plateia aqueceu a noite de inverno no centro da cidade. O espaço escolhido para receber a telona, ao lado do prédio da prefeitura, foi ocupado por espectadores de todas as idades em uma celebração da vida em comunidade.
Dois ônibus foram disponibilizados para levar os moradores até o local da sessão. Para realizar a obra, o autor mobilizou familiares, vizinhos e amigos no decorrer da produção e das filmagens, potencializando a construção coletiva do curta-metragem. Estava chegando a hora de ver o filme na tela. Quanto mais se aproximava o momento da exibição, mais aumentava a nervosismo do elenco e da equipe de produção local.
A noite cultural foi aberta com a apresentação do Grupo de Capoeira. A realizadora e pesquisadora audiovisual, Cintya Ferreira, formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF), uma das professoras de Cinema de Grupo das Oficinas Audiovisuais do Curta Vitória a Minas II, apresentou a sessão desta quinta-feira (06/07). Luan falou sobre o processo de criação da história e de mobilização comunitária, agradeceu ao empenho das pessoas envolvidas e convidou todo o elenco e equipe presente para ocupar o palco. Antes da obra principal da noite, os espectadores assistiram a outros curtas produzidos a partir de histórias contadas por moradores de cidades mineiras e capixabas do entorno da Estrada de Ferro Vitória a Minas. A turma se divertiu e interagiu bastante com os filmes.
“Foi uma experiência única porque eu vi cenas sendo gravadas e, agora, vê todas as gravações virarem um curta, isso nos lembra a importância da nossa imaginação como caminho para fazer o mundo mais colorido. Vê a nossa cor assim naquele telão foi tudooo! Nós podemos ser muito mais. Ouvi a voz da Geany e o rosto dela na tela foi demais. Na hora da cena, ela falou alto para a mãe: olha eu ali mãe, toda besta. O Luan está de parabéns porque mostrou a beleza que nossa cor tem e a beleza da natureza”, declarou Liliane Penha.
Desde o lançamento do curta, o diretor vem recebendo muitas mensagens de felicitações nas redes sociais e compartilhou alguns relatos como este enviado pela amiga Angela Ferreira: “Parabéns! Tudo o que é feito com amor, se torna lindo, assim como você é. Que venha mais! Que coisa mais emocionante. TD linda, simplicidade, luxo de criatividade de melanina que amo. Vi pessoas que amo. Sei o quanto foi emocionante fazer esse filme e sei que esteve com sua irmã no pensamento o tempo todo, eterna Dri. Chorei viu…. Deus abençoe vocês. Linda homenagem. Você nos representa com sua garra, sua determinação”.
A descoberta da seleção da história “O T-Rex e a Pedra Lascada” no Concurso do Curta Vitória a Minas II aconteceu num momento muito doloroso para o autor por causa do impacto da perda da irmã do meio, Adrielly. O curta-metragem, que é um clamor pela preservação dos tesouros ambientais do planeta e pela reconexão do ser humano com sua divindade e poder interior, traz uma delicada homenagem à saudosa irmã e a outros entes queridos falecidos, como um gesto de honrar os antepassados e lembrar que suas histórias jamais serão esquecidas.
Jessica Borges Grippa vem acompanhando a trajetória de vida do Luan desde que ele era pequeno e morava no Bairro Crubixá aonde ela também morou. A influencer digital da cidade sentou na primeira fila para assistir a obra. “Foram muitas emoções e aprendizados com o filme. Por acompanhar de perto, sei que foi um processo de terapia para o Luan, assim como para toda a família, inclusive, para os filhos pequenos da irmã dele. Todos abraçaram o filme porque estavam passando por um processo de luto e essa oportunidade uniu todo mundo. O filme mostra que a vida continua. E, assim como a vida, a natureza também continua, por isso, a gente deve preservar a natureza, preservar as belezas que temos em nosso município. Eu não tenho palavras para expressar meus sentimentos. Foi lindo e muito emocionante”, conta.
A influencer destacou a energia e a dedicação do diretor ao se entregar a um projeto. “É o tipo de pessoa que não teve muitas oportunidades, mas as que ele teve, e que sentiu vontade de abraçar, abraçou e foi em frente mesmo em meio às dificuldades. Então, a gente sabia que seria um trabalho maravilhoso, assim como foi lindo o trabalho e a organização da equipe. O sentimento é de gratidão pela conquista dele ao terminar mais um trabalho com sucesso e de ver a família toda e todo mundo participando. A minha vontade é que o mundo todo veja”, comemora Jessica.
Como educador ambiental, o diretor pretende criar um circuito de exibição da obra em escolas para promover a reflexão sobre os aspectos tratados na obra, entre eles, a preservação das águas e das matas, a valorização da conexão das pessoas com a natureza, o respeito pelas heranças ancestrais e o resgate dos valores, dos saberes, das memórias e das histórias transmitidas através das gerações.
“Com a realização do filme, descobrimos várias potências desde as personagens mais jovens até as mais velhas, como as minhas tias. Tia Graça é uma contadora de história. Eu descobri isso no filme e quero fazer outros trabalhos envolvendo a minha tia. São pessoas para o qual temos que dedicar uma atenção, costurando o mais velho e o mais novo da comunidade. Precisamos ouvir e ver estas pessoas mostrando o talento que, muitas vezes, não enxergamos porque fica escondido dentro de um processo de invisibilidade. Temos muita coisa boa na nossa comunidade e acho que foi essa potência que quis mostrar com o meu filme”, explica Luan Ériclis.
Texto: Simony Leite Siqueira